domingo, 2 de janeiro de 2011

TEMA 157 - MEMÓRIA IMPLACÁVEL

ZEPA
Mariazinha Cremasco


Estava precisando comprar uma roupa nova e fui tentar o que tanta gente faz: ir à Rua José Paulino, carinhosamente chamada Zepa, famosa em São Paulo por seus preços e variedades.
Moda... pffff... Tudo igual, as lojas seguem o mesmo estilo, salvo raríssimas exceções. Tem até desfile na rua. (a moça de coração bom deve ter desfilado lá.)

Estreei o Fura-Fila - agora Expresso Tiradentes. Aquele que liga o nada a coisa alguma. Eu moro no "coisa alguma". O nome original, Fura Fila, foi dado pelo ex prefeito Pita há dez anos. Uma obra superfaturada, caríssima que, para funcionar, precisou ser modificada em seu projeto original. Nada além de um "busão" nos ares, um minhocão só de ônibus.
Andei de metrô, caminhei bastante e vi tudo igual. Sempre qüelo quarantoto, como diria minha avó.

A moda é uma coisa terrível mesmo. Queria um vestido simples, meio clássico, sem muito detalhe. Mas que nada.Todos tinham ou uma faixa na cintura e um laço atrás, ou eram frente única estampado. E as estampas pareciam todas iguais. Verde e branco, preto e branco, azul e branco. Desisti, claro.

Foi então que, com minha super-hiper-mega memória, lembrei de uma loja que frequentei por uns tempos. Na Estação Julio Prestes. Da Zepa*, ou J.P, como é chamada a rua, até ela eu chegaria em 5 minutos de caminhada (me disse um informante) O que seriam 5 minutos pra quem estava há horas andando?

E lá fui eu procurar a loja, da qual sequer sabia o nome. Lembrava apenas que a vendedora era simpática, tinha sotaque nordestino, era morena e se chamava Rita.
-A senhora sabe como ela é? - pergunta um segurança-
-Morena, alta, cabelos escuros e compridos, bem falante e MUITO simpática.
-Assim fica difícil, moça.
Embora eu tenha adorado ser chamada de moça, ele não conhecia a Rita.

Perguntei a TODOS os seguranças e nenhum sabia quem era a tal moça com sotaque nordestino.
E lá vou eu, teimosa como uma porta, caminhando dentro do mini shopping que nem é tão mini assim, para tentar encontrar a loja da Rita. Subi, desci, subi novamente.
-A senhora sabe ao menos se era no térreo ou no primeiro andar?
-Primeiro andar! Tenho certeza! Eu subia as escadas e entrava à direita.
Depois de muito procurar, cheguei à conclusão de que a loja deveria ter fechado. Afinal de contas, embora certa de que era no primeiro andar, eu andei tudo de cabo a rabo e várias vezes, nos dois andares.

-Tem certeza de que é preciso subir a escada?
-Claro! Eu conheço bem a loja e conheço bem a Rita. (será que ele estava me achando com cara de doida?).

Mesmo sabendo que sou meio sem noção (os lugares, não sei porquê, me parecem sempre tão parecidos...) continuei tentando.

Sou teimosa e não me conformava em ir embora sem achar a Rita. Então, passei pela enésima vez diante de uma loja, pasmem, no térreo. Nessa enésima vez, resolvo olhar para dentro (tendo a certeza de que não era lá).
E quem eu vejo? A Rita!

Rita é quase igual ao que eu me lembrava. Alta, falante, simpática e louríssima. Loura de cabelos descoloridos!
-Apois, Maria! Lembrou-se de mim, foi?
-Rita! Que bom ter encontrado você! Mudou para o térreo? Você ficou loura?
-Absolutamente! A loja sempre foi aqui e eu nunca fui morena. Eu uso esse cabelo há décadas.

Eu e minha falta de noção de espaço.

Enquanto isso minha companheira de andança ria até não mais poder. A loja é a melhor do lugar e as roupas também. Finalmente encontrei o que desejava. Um vestido simples, com bela caída, que usarei em uma data pra lá de especial.
Meus pés doíam tanto, que precisei trocar de calçado com a minha amiga querida, companheira dessa jornada.
Na volta, quis "destrocar" os calçados, claro. Estávamos dentro do ônibus, mas eu não quis saber. Trocamos ali mesmo, em pleno movimento do ônibus cheio e nós duas de pé, praticamente penduradas. É terrível andar de ônibus em São Paulo. Não há o menor respeito pelo ser humano. Correm, abusam nas curvas e ficamos à mercê deles.
O importante é que, na minha sacola, estava o tão procurado vestidinho verde...

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